sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Carnaval Pop & Eleições 2010

Carnaval Pop & Eleições 2010
Beyoncé, Martiniano, Plínio, Babá, Parangolé e Caetano Veloso



Vivemos uma curiosidade tipicamente brasileira essa semana. A visita arrasadora da cantora-dançarina pop norte-americana Beyoncé Giselle fez Caetano Veloso compará-la ao sucesso do momento no carnaval baiano, o rebolation. Abriu-se, então, a polêmica: Beyoncé ou Psirico, quem é melhor? Melhor ainda: quais as diferenças no conceito musical? O bom baiano e compositor genial Caetano, ciente da proximidade rítmica, disse preferir, com razão, o ritmo brasileiro do grupo Parangolé ao da cantora mais rica do mundo.

Ao mesmo tempo, a esquerda socialista brasileira debate sobre o melhor candidato para disputar contra Dilma, Serra e Ciro em 2010, após encerramento de diálogo com Marina, que recusou ser o contraponto e preferiu apostar num “realinhamento” que una PT e PSDB - proposição coerente programaticamente para ambos, mas que talvez perca a coerência se Marina encarnar a unidade, visto que ela poderia desafinar o tom neoliberal. Por isso, o PSOL busca um candidato que lute sozinho contra os outros quatro e dê ritmo à esquerda em 2010, após a acertada tentativa de atrair Marina para a unidade contra o projeto hegemônico no Brasil, apesar de não ter dado samba.

A polêmica sobre o candidato do PSOL a presidência significa muito mais que uma escolha de nomes entre Martiniano Cavalcante, Plínio ou Babá. O debate é entre projetos políticos, estratégias e táticas, visão sobre Brasil, socialismo e o papel da esquerda. Não é apenas o ritmo – como Byoncé e Psirico - mas também a melodia, o tom, a poesia e o improviso, ou seja, o conceito musical que o PSOL tocará em 2010. Isso é importante, pois mesmo uma bela melodia pode soar ruim sem um ritmo adequado ou com improvisos desafinados. Sem poesia também não há harmonia. E o objetivo do PSOL é ser ouvido e entendido pelas massas populares, além das vanguardas e sem perder o tom. Trata-se de um contexto muito complexo essa escolha do PSOL em curso, com amplitude e pragmatismo que lembra a comparação sonora que fez Caetano unir Parangolé a Beyoncé, apesar da aparente superficialidade analítica dos casos.

Mesmo que a natureza estrita das polêmicas de Caetano Veloso e do PSOL não possam ser comparadas, o contexto carnavalesco não pode nos deixar de relacioná-las. Por outro lado, o primeiro debate entre os pré-candidatos, no Rio, deixou a mesma impressão. Claramente ouviram-se dois ritmos distintos tocados pelos três candidatos. De um lado, Martiniano executando o excelente ritmo melódico original que deu origem ao PSOL e construiu Heloísa referência nacional e, por outro lado, Plínio e Babá desafinando no contra-tom musical da big band psolista.

Ao contrário do rótulo de estreito e sectário que a mídia tenta impor, desde sua pré-fundação o PSOL nunca negou o diálogo coerente, mas respeitando princípios. O núcleo fundador do partido, que tem Martiniano como uma peça chave, sempre conversou com setores que se contrapõem à unidade entre a velha e a nova direita, sem trocar de ritmo. Assim foi com os parlamentares do PDT (dep. João Fontes) e PSB (sen. Geraldo Mesquita) que ajudaram a legalizar e fundaram o PSOL e depois se afastaram. Assim foi com setores que só romperam com o PT após o escândalo do mensalão e permanecem até hoje no partido. Da mesma forma, assim também foi com a aproximação e afastamento de Marina Silva do diálogo conosco. Todos esses processos positivos foram possibilitados pela conjunção entre rigidez rítmica (programática) e flexibilidade melódica (tática) leninista, sem capitulação nenhuma, sem sair do tom, um processo executado com maestria pela direção histórica fundadora do PSOL representada na candidatura de Martiniano Cavalcante, cuja maestrina é Heloísa Helena, junto com Luciana Genro. Babá foi peça-chave nesse diálogo amplo inicial que gerou o PSOL, mas tem atravessado o samba e esquecido das letras nesse carnaval.

A pré-candidatura de Martiniano soa a coerência e a harmonia rítmica que possibilitou ao PSOL romper com o PT, se aproximar de setores de outros partidos no período da fundação, conquistar novos grupos na crise do mensalão e dialogar com Marina até o momento onde a melodia da esquerda socialista revolucionária pudesse ser ouvida, compreendida e apreciada, sem destoar do gosto musical do povo e da nossa tendência melódica.

O setor fundador do PSOL sempre agiu com maturidade e firmeza revolucionária. Isso deu tranqüilidade para Heloísa Helena aparecer em alguns momentos com 15% nas pesquisas para presidente em 2006 e conquistar 7 milhões de votos no país. Esse capital e essa responsabilidade não podem ser jogados fora a troco de nenhuma aventura ou de variações analíticas sobre movimentos sociais ou governo Lula. A referência que o PSOL conquistou junto ao povo não pode ser menosprezada. Martiniano encarna esse desafio e nos dá a segurança que o PSOL não vai desafinar com posições oportunistas, sectárias ou estreitas a serem ignoradas e ridicularizadas pelas massas. A impressão é que tanto Babá quanto Plínio teriam o mesmo ritmo, como Byoncé, Parangolé e Psirico.

O PSOL, Martiniano e o povo brasileiro não agüentam tanta corrupção. Esse é um eixo central da luta e da denúncia do sistema capitalista e para organização dos trabalhadores. A prisão de Arruda no Distrito Federal e a declaração de temor de Lula diante da decisão do STJ deixam isso mais do que evidente, inquestionável. Com bem disse Martiniano no debate do Rio, corrupção gera dinheiro, que produz mandatos corruptos, que produz mais dinheiro e mais mandatos corruptos contra o povo e à serviço do avanço do capitalismo e da desigualdade. Martiniano, assim como Heloísa, é mestre na arte de transformar fraqueza em força através da política, como ficou provado na cruzada heróica que coletou 500 mil assinaturas para legalizar o PSOL e sofreu resistência de muitos setores da própria esquerda. Esse núcleo fundador sabe a responsabilidade de construir um partido para dialogar com as massas e não apenas com setores vanguardistas e intelectualidade.

Caso o povo brasileiro não estivesse no espírito carnavalesco, seria deselegante, impertinente e não adequado comparar Plínio com Byoncé, Babá com Parangolé ou Martiniano com Caetano Veloso. Mesmo assim, ressaltamos que as analogias são cordiais e apenas fruto dos bons espíritos de carnaval, sem rebaixar a importância e seriedade que o debate deve ter e os desafios em jogo. Afinal de contas, não existe nada mais sério no Brasil que Carnaval.


Kenzo Jucá - PSOL/DF

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Apoio da APS à pré-candidatura de Plínio anima militância do PSOL

9 de fevereiro de 2010

Luciete, Plínio, Ivan Valente e Miguel Carvalho (presidente do PSOL-SP)
Foi divulgada nesta terça-feira (9 de fevereiro) a declaração de apoio da corrente Ação Popular Socialista, que tem entre suas figuras de maior destaque o deputado federal Ivan Valente (SP), à pré-candidatura de Plínio Arruda Sampaio. A nota assinada pela coordenação da APS coloca o bom e correto debate sobre a necessidade da campanha presidencial ser uma campanha do partido, que unifique a militância do PSOL e fortaleça a busca pela unidade da Frente de Esquerda na eleição.

Esse é o espírito da pré-candidatura de Plínio desde o seu lançamento e deve ser o conteúdo da candidatura do PSOL – que será definida na conferência eleitoral do partido, nos dias 10 e 11 de abril. E o apoio da APS traz muita alegria a toda a militância do PSOL, que tem duas grandes tarefas neste ano, como ressaltam os companheiros: intervir no processo de reorganização sindical e nas eleições.
“Muito me alegra o apoio dos companheiros da APS, que são uma componente importantíssima do PSOL. Quando aceitei que meu nome fosse colocado como pré-candidato do partido foi com a idéia de que pudéssemos construir uma campanha como a de 2006 para o governo de São Paulo – que foi uma das que me deu mais alegria na vida porque tínhamos um partido vigoroso, com uma proposta socialista clara, uma militância aguerrida e uma grande unidade para enfrentar o projeto do capital. E, com ela, garantimos a eleição de uma aguerrida bancada socialista na Câmara dos Deputados e na Assembleia Legislativa de São Paulo – que fortalece a bancada nacional do PSOL. A tarefa deste ano é reeleger o Ivan, o Chico Alencar, a Luciana Genro, o Marcelo Freixo, o Raul Marcelo e o Carlos Giannazi e ampliar a nossa representação parlamentar – e atuar com muita alegria e disposição também para contribuir para o sucesso da unificação sindical dos setores da esquerda no Brasil. Por isso, comemoro a declaração de apoio da Ação Popular Socialista”, declara Plínio.
Resolução da CNAPS sobre Tática Eleitoral
Ao apoiar a Pré-candidatura de Plínio a Presidente, APS propõe acordo sobre programa e linha de campanha
1. O PSOL vai realizar sua Conferência Eleitoral Nacional com o desafio de definir diretrizes de programa de governo, a estratégia de campanha, a política de alianças e o candidato que deve representar as decisões partidárias.
2. Isto se fará numa conjuntura muito difícil na qual, por um lado, a disputa principal estará entre os dois principais blocos de forças políticas do país, que são partes de um projeto que dá sustentação à ordem burguesa, reforçando os interesses do imperialismo, do capital financeiro, dos monopólios e do agronegócio.
3. Por outro lado, apesar desta situação desfavorável, a luta pelo socialismo e especialmente a resistência popular ao neoliberalismo se mantém viva, no cotidiano de exploração, dominação e opressão dos trabalhadores e do povo. Além disso, há uma mobilização dos setores combativos do movimento sindical e popular para a reorganização do movimento em geral e, destacadamente, para a construção de uma nova central.
4. Nossa intervenção neste processo político deve ser a de, com base nas resoluções anteriores da Ação Popular Socialista (APS) e nas resoluções do II Congresso do Partido Socialismo e Liberdade (PSOL), desenvolver a Resistência Indígena, Negra, Feminista e Popular, reforçando, qualificando e ampliando a Oposição Programática de Esquerda ao governo Lula-PT e ao bloco PSDB-DEMO, guiados por um Programa Democrático e Popular, de caráter antiimperialista, anti-monopolista, anti-latifundiário e democrático radical.
5. Assim, 2010 é um ano no qual o PSOL e a esquerda tem duas tarefas sobre as quais toda nossa militância da APS e do PSOL precisa estar plenamente envolvida: 1) a reorganização do movimento sindical e popular, especialmente a realização do CONCLAT e a construção da nova central, como um instrumento unitário de todos os que lutam contra a exploração; 2) e a intervenção no processo eleitoral de modo a obter um resultado positivo, ocupando o espaço político nacional, enfrentando a polarização conservadora, afirmando a oposição programática de esquerda e viabilizando a eleição de uma bancada do PSOL e aliados ainda mais representativa.
6. Neste sentido, a APS lutará para que o PSOL assuma um programa de caráter democrático e popular, coletivamente construído pelo partido e que nosso candidato seja um sujeito ativo em sua promoção além de atender as duas prioridades apontadas no item 5.
7. O conjunto da situação política nos coloca, neste momento, diante de possibilidades concretas. Entre estas, a APS entende que o PSOL deve lançar uma candidatura presidencial do partido que, além de sua história de lutas: tenha uma representatividade reconhecida nos movimentos sociais e na sociedade; tenha melhores condições de construir a unidade de ação do partido neste processo; amplie politicamente os espaços do partido; possa construir um leque de alianças políticas e sociais o mais significativo possível; potencialize nossos frutos políticos na campanha presidencial e para governos dos estados; assim como contribua para obtermos resultados que ampliem nossas bancadas parlamentares.
8. Apesar das divergências com pontos de pronunciamentos recentes sobre programa de governo e sobre a linha de campanha, o candidato que mediante acordo melhor pode expressar estes objetivos para o PSOL é o companheiro Plínio de Arruda Sampaio.
9. Sendo assim, compreendendo esta situação e refletindo neste momento o sentimento mais amplo de nossa militância, a CNAPS define o nome do companheiro Plínio como nosso pré-candidato para a Conferência Eleitoral Nacional do PSOL e propõe a necessidade de um acordo na medida em que ele não é pessoal, mas vinculado a um projeto político. Este acordo está relacionado ao programa de governo; à estratégia de campanha; a outras questões importantes do discurso a ser feito no decorrer desta pré-campanha; assim como aos seus desdobramentos políticos e organizativos. Isto é essencial para que esta pré-candidatura seja coletiva; reflita os apoios que estão sendo recebidos no partido; possa ampliá-los e chegar ao conjunto nacional dos filiados do partido; e tenha condições de vencer a Conferência e se tornar o candidato de toda a militância do PSOL. Nesta discussão, fraterna e consistente, a APS dará suas contribuições, tendo como base o exposto nos itens 4 e 5 desta resolução.
10. A APS conclama toda sua militância a se engajar, desenvolvendo todo o esforço para que esta tática e o PSOL saiam vitoriosos desta Conferência Nacional.
Ousando Lutar, Venceremos!
Coordenação Nacional da Ação Popular Socialista – APS
Brasília, 7 de fevereiro de 2010

Plínio pede unidade da esquerda para enfrentar burguesia

No primeiro debate entre os pré-candidatos do PSOL para as eleições presidenciais de 2010, realizado nesta segunda-feira (8), no Rio de Janeiro, Plínio Arruda Sampaio conclamou o partido à unidade para enfrentar a burguesia na dura batalha eleitoral deste ano. O debate contou com uma participação maciça da militância, com cerca de 500 pessoas presentes ao auditório do Sindsprev (Sindicato dos Previdenciários do Estado).
No início, cada pré-candidato foi “apresentado” por um de seus apoiadores. Coube ao jornalista, ex-deputado federal e dirigente do PSOL Milton Temer, ex-presidente da Fundação Lauro Campos, afirmar a pré-candidatura de Plínio. Temer declarou que, acima de qualquer disputa interna, Plínio é o melhor nome pra representar o PSOL nas eleições presidenciais, não apenas por sua trajetória política, mas principalmente por sua capacidade de aglutinar organizações de esquerda e os movimentos sociais. “O que está em jogo é como o PSOL se apresenta, após aceitar que Heloísa Helena voltasse a disputa do Senado. Que nome poderia nos representar para além das paredes do partido”, disse, completando com a afirmação de que o melhor nome para cumprir a tarefa é o de Plínio, apesar do valor das outras duas pré-candidaturas.
Plínio foi o primeiro a falar e iniciou sua intervenção apontando as dificuldades das eleições na sociedade brasileira atual. Ele citou Florestan Fernandes, ao afirmar que a burguesia brasileira se utiliza da idéia da contra-revolução permanente para bloquear o acesso do povo a qualquer instrumento de poder.
Segundo o pré-candidato, a campanha eleitoral é curta, e o debate político limitado, pois interessa à classe dominante bloquear o surgimento de qualquer projeto alternativo para a sociedade brasileira. De acordo com ele, essa restrição acontece para não permitir que o povo vislumbre uma possibilidade de alternativa à ordem capitalista.
Diante deste cenário difícil, Plinio afirmou que o partido precisa sair unificado da conferência eleitoral, que acontece nos dias 10 e 11 de abril, também no Rio de Janeiro. “Temos um grande desafio pela frente e não podemos esquecer que nosso inimigo não está aqui dentro. Depois da conferência, não tem mais Babá, nem Martiniano, nem Plínio. Tem um PSOL unido para enfrentar a burguesia”.
Ele lembrou ainda a importância de apresentar à sociedade um programa que represente o conjunto do PSOL, dos partidos de esquerda e dos movimentos sociais. Entre os pontos fundamentais deste programa, Plínio destacou a questão agrária: “A reforma agrária é a condição da liberdade e da democracia neste país”, afirmou.
Plínio destacou outra tarefa importante a ser cumprida durante o processo eleitoral: avançar na construção do partido. Segundo ele, essa é uma oportunidade importante para aglutinar e organizar nossa militância em todo o país, manter os atuais mandatos parlamentares conquistados pela sigla e buscar ampliar a representação no Congresso Nacional e nas assembleias legislativas.
Em sua intervenção, o também ex-deputado federal e pré-candidato Babá defendeu a importância de resgatar a Frente de Esquerda (coligação do PSOL, PCB e PSTU em 2006) e afirmou que, apesar da conjuntura difícil, o partido não pode abandonar seus princípios. “Estou convicto que existe espaço para nossas propostas, como única alternativa para o que está aí hoje”, disse.
Martiniano Cavalcanti, o terceiro pré-candidato apresentado ao PSOL, defendeu a tentativa de aliança com a candidatura de Marina Silva buscada até o início deste ano pela direção do partido, diante da conjuntura adversa, e criticou a idéia de resgatar a Frente de Esquerda.
Os pré-candidatos participarão ainda de outros nove debates em todo o país antes da conferência eleitoral. Até agora, Plínio conta com o apoio de cinco das nove tendências nacionais do PSOL (Coletivo Socialismo e Liberdade, Bloco de Resistência Socialista, Trabalhadores na Luta Socialista, o agrupamento do qual Milton Temer é um expoente – conhecido como Grupo do Rio – e Enlace). Os três deputados estaduais do PSOL – Raul Marcelo (SP), Marcelo Freixo (RJ) e Carlos Giannazi – também apóiam Plínio.

sábado, 6 de fevereiro de 2010

ENTREVISTA DE PLÍNIO DE ARRUDA SAMPAIO A REVISTA CARTA CAPITAL

ENTREVISTA DE PLÍNIO DE ARRUDA SAMPAIO A REVISTA CARTA CAPITAL


http://www.cartacapital.com.br/app/materia.jsp?a=2&a2=8&i=5955

Pré-candidato à Presidência da República pelo PSOL, Plínio de Arruda Sampaio, 79 anos, é intelectual católico próximo de uma corrente que na França produziu figuras como François Mauriac. Iniciou-se na política ao lado do governador paulista Carvalho Pinto, foi deputado federal pelo PDC e despertou as iras dos latifundiários ao criar durante o governo de João Goulart a Comissão Especial da Reforma Agrária. Com o golpe de 1964 foi um dos primeiros cem brasileiros que sofreram a cassação dos direitos políticos. Por seis anos viveu exilado no Chile. De volta, lecionou na FGV e militou no MDB. Em 1980, passou-se para o PT e foi autor do estatuto do partido. Voltou à Câmara Federal em 1986. Desde 2005 liderança do PSOL, aqui expõe suas decepções, esperanças e aspirações.

CartaCapital: É o senhor o candidato do PSOL à Presidência?
Plínio de Arruda Sampaio: Há uma certa disputa de correntes internas que se resolve em março. Eu acho que nós precisamos ter uma candidatura alternativa com capacidade de propor o outro lado, caso contrário será um lado só. A verdade é que entre o Serra e a Dilma há diferenças de nuances aqui, nuances ali, mas não tem uma diferença substancial. Ninguém propõe a solução necessária. Aliás, eu noto o seguinte, o domínio da burguesia é uma hegemonia completa, então o que eles não querem é que se levantem as soluções reais. Discutem-se os problemas através de um artifício: o País amadureceu, as ideologias estão superadas e vamos para as soluções técnicas. Por exemplo: como explorar o pré-sal? Com a Petrobras ou por meio de uma empresa nova? Este não é o problema e esta solução é acidental.

CC: Como o senhor interpreta então a clara resistência da mídia em geral, que é excelente porta-voz da burguesia nativa, ao nome de Dilma Rousseff e, sobretudo, de Lula?
PAS: A mesma coisa deu-se com Getúlio. Ele na verdade defendeu os fazendeiros de café como ninguém. Eu que descendo de fazendeiros de café sei muito bem o que acontecia lá em casa, no entanto o Getúlio com aqueles senhores não tinha vez. Porque Lula tem um vício de origem. Embora, a meu ver, ele tenha passado para o outro lado, totalmente, ele sempre é um cara do lado de lá.

CC: Ódio de classe no caso do Lula. Mas Dilma não é uma ex-metalúrgica.
PAS: A Dilma pode ser a Dilma, pode ser o Zequinha da esquina, pode ser um poste, a Dilma é o Lula.

CC: E Serra não é Fernando Henrique?
PAS: O Serra é melhor que o Fernando Henrique. Mas é o Fernando Henrique. Ele é mais nacionalista que o Fernando Henrique. Eu conheço bem o Serra, nós estudamos juntos em Cornell, fomos companheiros, trabalhamos juntos. Eu o conheço desde menino. Serra é mais decidido que Fernando, que só pensa nele mesmo. Há horas em que Serra não pensa só nele.

CC: A popularidade de Lula não decorre da identificação do povo com um igual que chegou à Presidência?
PAS: Esse é um componente, mas tem outros. O brasileiro diz para si mesmo: não tem jeito, é esse aí mesmo, esse é nosso. Mais um componente é a cultura do favor. Esta é uma sociedade que teve 300 anos de escravidão, quando havia duas figuras econômicas, um senhor de terras e um escravo. No meio ficava o bastardo, um mulato liberto, um branco pobre. Não tinham lugar na economia. Do que eles viviam? Do favor do senhor de terras. Isso está até hoje, a cultura do favor. Lula, ele dá 100 mil reais, ou 200 mil reais, não sei quanto, para 50 milhões de pessoas. O quadro brasileiro é o seguinte: há quem está melhor do que estava, 20 milhões de pessoas que estão consumindo. A minha empregada está comprando um carro zero. Objetivamente, a inflação está segura, ainda é alta para alguns padrões, mas para nós aqui é uma maravilha. Todo mundo gosta de ver o Lula ao lado do Obama. Então na superfície da sociedade a melhora aconteceu. Embaixo é que é o problema, as grandes tendências que estão se acumulando são terríveis. A educação está um horror. A mesma empregada que compra um carro tem dois filhos, os dois meninos estão formados no grupo escolar, não sabem ler nem escrever. E o País se endivida de uma maneira brutal. Amanhã dá um repeteco lá fora e isso aqui vai ser um desastre. Isto é o que tem de ser levantado na campanha, o povo precisa tomar consciência da situação e conhecer as soluções corretas.

CC: Quais são as soluções corretas?
PAS: As soluções concretas dos problemas concretos e em um discurso que aponte para a dinâmica dessa solução concreta. Vou dar um exemplo: reforma agrária, o que pode ser feito agora? O que pode ser feito agora é crédito. Em todo caso, o encaminhamento de uma solução que aponte para um desequilíbrio, uma desestabilização, uma dinâmica de transformação. O MST e a CNBB estão propondo o seguinte: as propriedades com mais de 1.000 hectares serão desapropriáveis, não quer dizer desapropriadas, o que permitirá muito maior flexibilidade. Qual é a solução para o programa educacional? Pagar melhor o professor, mais verba etc.

CC: Mas onde achar a verba?
PAS: Tudo bem, que tem, tem, se não pagar a dívida brutal, essa dívida interna imensa, tem dinheiro adoiado. Mas não é isso, isso segura. O que não segura? Uma ideia. Se nós queremos democratizar este país, a educação tem de ser pública. Trata-se de transformar a educação em uma atividade fora do comércio.

CC: Eliminar a ideia da escola privada?
PAS: Não existe escola comércio. Escola ideológica, escola católica, tudo bem. Faz uma comunidade, vai no fundo de imposto para a educação e diz olha, a minha escola é tal. Só que a verba que ele vai tirar ali é idêntica à verba que uma outra escola marxista, uma outra escola do vudu, da umbanda tirará no Piauí porque aí o menino do Piauí tem o mesmo microscópio.

CC: Isso tudo não é um tanto utópico?
PAS: É utópico, mas na minha campanha eu me empenharia em apontar o outro lado. Não em campanha programática, ideo-lógica, propagandista, não falaria em socialismo, em produção de mercadoria, mas colocaria soluções mais fortes.

CC: Como se enfrenta o desequilíbrio social provocado por uma distribuição de renda muito ruim?
PAS: Eu acho que a primeira medida é justamente a reforma agrária, precisamos colocar 6 milhões de famílias no campo, na terra. Precisamos de uma reforma agrária de verdade. Aliás, eu fiz um projeto para o Lula, um projeto modesto. Para ter uma ideia, no tempo do Sarney o Zé Gomes fez um primeiro plano para assentar 1,4 milhão de famílias em quatro anos, eu fiz para 1 milhão porque a correlação de forças não permite. O plano não passou, cortaram pela metade. E não cumpriram nem a metade. Por que a reforma agrária é a primeira medida? Porque a desigualdade começa no campo. No segundo andar fica a educação, depois vem o resto. Se você resolver educação e terra, que foi o que fez a China...

CC: Mas nós não temos uma elite muito resistente?
PAS: A última vez que eu vi o empresariado foi na festa de CartaCapital. Aquele dia eu achei uma graça o discurso do Lula. Ele dizia “Eu dei tudo para vocês e vocês são contra mim?” Florestan Fernandes diz o seguinte: “Essa é uma burguesia lúcida, consciente, que montou um projeto de contrarrevolução permanente para evitar qualquer réstia de poder do povo”. Essa é uma verdade, ela é capaz. Por outro lado é muito limitada porque aceita viver de comissões. Ela é uma burguesiasinha de acomodação. Então é curioso porque por um lado ela é feroz e competentíssima, por outro lado ela é uma burguesia de negócios. Ela está aqui, o País oferece um monte de negócios e ela é uma espécie de corretor do capital estrangeiro, ela presta o serviço e aí recebe um caraminguá que eu acho o fim do mundo.

CC: O PSOL nasceu como uma dissidência do PT. O que determinou a ruptura?
PAS: O PT era um projeto socialista, era um projeto de transgressão da ordem estabelecida e foi paulatinamente se tornando um partido da ordem. Quem estava lá dentro e não era da ordem era da desordem, falou “não, aqui tem um limite”. Eu segurei o que pude porque acho que o primeiro partido que o povo criou foi o PT, um partido que merecia o maior respeito. Em 300 anos de história, o PT foi o primeiro partido que não se fez no tapete. Segurei o que pude, mas chegou num ponto em que permanecer era impossível. Quando Lula começou a entregar a nossa moeda, o Banco Central rendeu-se à doutrina neoliberal, a reforma agrária não foi executada. Falei: bom, não tem mais o que fazer aqui dentro, vou tentar fazer em outro lugar. Essa é a origem do PSOL, o PSOL é uma tentativa de afastar-se da estratégia atual do PT. Nos seus primeiros 10 anos de vida, a estratégia do PT estava muito correta, respondia a uma realidade anterior à queda da União Soviética. Agora o caminho tem de ser outro, de certo modo mais radical, porque você tem menos intermediação. Naquele tempo havia uma intermediação social-democrata, hoje o conflito foi reduzido, mas ao mesmo tempo a situação não propicia uma correlação de forças favorável a mudanças profundas.

CC: O senhor acha que o governo de Lula foi melhor que o de FHC, ou pior?
PAS: Ah, de longe, muito melhor. É que o talento de Lula é maior que o de Fernando, Lula é um homem talentosíssimo. Ele é de certo modo, pegue a palavra com cuidado, ele é de certo modo um impostor, mas um impostor que acredita na própria impostura. É um demagogo, quando Lula chora, chora mesmo. Não é Jânio Quadros, que chorava lágrimas de crocodilo. Ele não, aquela explosão de choro quando o Brasil foi escolhido para a Copa... Imagine se o Fernando Henrique seria capaz de chorar. Aquilo tem um efeito popular enorme, porque é autêntico, porque é verdadeiro. E o Lula é um homem mais humano, sofreu mais, conhece mais.

CC: O que visa o PSOL ao concorrer na eleição para a Presidência?
PAS: A ideia básica é a seguinte: a nossa é uma candidatura realista, vai discutir os problemas reais e as soluções reais, mas vai mostrar que essas soluções ainda são um começo.

CC: A sua aposta numa votação num primeiro turno?
PAS: O quadro não está montado, mas é coisa pequena, na melhor das hipóteses uns 3% a 5%, não vai muito além disso.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Dialogando Sobre o PSOL 2010

De Osni Vagner



Carta a Afrânio Boppré



A conjuntura que se apresenta tem suas complexidades, desvendar as demagogias, permite compreender os cenários e os sentidos da realidade, com um relativo controle social por parte do governo e da mídia.

Quase unanimidade a bipolaridade, aja vista os dois últimos presidentes estão no poder a quase duas décadas. O fisiologismo das bases aliadas tem facilidade em mudar de campo de apoio muito rápido, podemos observar que cada região fará alianças oportunistas, conforme suas melhores posições perante o público.

A continuidade para os aliados, os governistas e interesses das elites, contrapor a todos por um lado é difícil, mas podemos ter avanços no debates socialistas abarcando novos camaradas para contribuir neste desafio.

De fato 2010 chegaram e são mais que urge que debatamos nossas alternativas para este momento decisivo.

O convite me surpreendeu achei que esse debate acabaria acontecer somente em abril, fico feliz em saber dessa disposição já em fazer esse debate tão importante.

Provavelmente isso é possível em função do enxugamento da agenda, as questões da majoritária, tornam-se uma solução a partir do debate dos presidenciáveis do PSOL.

Significa que estamos dialogando, mesmo que os interesses internos muitas vezes atrapalham, precisamos ter uma visão de conjunto, a analise de conjuntura serve para isso, muitas vezes se cumpre o ritual e deixa de fazer a analise crítica.

Perde-se em teorias ideológicas puras e se perde o principal a sensibilidade, acredito que cada um em seu intimo tem uma percepção instintiva, que precisa ser expressa no partido para isso os coletivos, tendências e debates de teses servem.

Outra questão é o funcionamento do partido podemos a partir desse debate do dia quatro de fevereiro, propiciar debates nos municípios, como preparação para as plenárias.

Podemos combinar essas atividades garantindo as datas pelo menos quinze dias antes, até porque a dificuldade em reunir precisa ser superada, mudar a relação com a base, sem medo de construir.

Falo de Blumenau, acredito que é uma realidade geral esse situação, combinando antecipadamente poderemos ter pelo menos os mesmos filiados e militantes na plenária.

Essa defesa da garantia de participação da base no debate, é importante tanto neste momento de decisão, certamente seremos os mesmos para participar do processo eleitoral.

Neste sentido de potencializar o partido tanto na questão teórica quanto pratica na organização e participação efetiva de todos.

A capacidade em defender o projeto socialista é a nossa estratégia partidária, Partido Socialismo e Liberdade, muito bem! A tática fica no campo prático de organização e participação.

No caso especifico de 2010 a eleição tem um espaço de divulgação de nossas ideologias, o nosso momento em debater o que queremos nesta eleição¿

As últimas eleições tiveram um objetivo de fundação, apresentação do novo partido, agora além dessa necessidade de continuar a demonstrar que existimos, precisa apresentar como alternativa a tudo que está ai.

Esse desafio é grande e precisamos ter grandeza para poder incorporar essa tarefa, que entendo o PSOL como ferramenta dos trabalhadores, não que seja novidade, talvez possamos mostrar a diferença no nosso jeito de fazer política.

Não é um jogo de palavras pura e simplesmente, mas fazer política com seriedade, não é só demonstrar coerência ou falar de ética.

Precisa ser uma prática acredito dessa maneira poderemos acertar mais na construção da alternativa que almejamos, para isso despojar das nossas fraquezas, penso que as rivalidades são fraquezas, e podemos resolve-las com a organização e participação.

Isso não é novidade e o desafio também não é novo, a realidade sim é outra história e precisamos estar articulados em poder desvenda-la.

Qual Saúde ambiental é socialista a que garante desenvolvimento sócio ambiental, a educação num todo precisa de toda sociedade interagindo para que possamos avançar nesse campo.

Especulação imobiliária não rima com Habitações para os que produzem e são explorados, e os excluídos do sistema.

Que mantém o desemprego, a violência pela desigualdade social, desequilíbrio ambiental e a crise econômica.



Saudações Libertárias!



Osni Vagner